
Sei que careço de luas
e_ de cada_ faço arte
d'entre as carências tuas
ser vazio e ser parte
faz-me integridade nua.
Nunca fui de lua pouca
sou de lua muita_ e_ louca!
Me desejas lua nova
quarto crescente me provas
me devoras por inteiro
em finais de fevereiro
quando sou tempo fugaz
quartos lacrados em paz
cama de seda e de teia
Sugas as minhas artérias
pra te fazeres matéria
Sempre soube tua trama
de indecência luminosa
no ofertório em que me amas
ritual em que me erras
entre os astros eu sou rosa
d'entre flores eu sou terra.
Longe, quando fui areia
brilhava em luaus e ceias
Meio aos astros_tu_decerto_
eras meu, um céu deserto
banquete de lua cheia
o leite da passarela
sapicado de estrelas
Menos que quarto minguante
hoje é perto e nem sou antes
Tantas luas tantos quartos
tantas chaves tantas portas
eu me abro em dois quartos
que é o quanto me comportas
doce vida em vários atos
doce fruta em compotas
partida em duas verdades
antes que se torne nada
como um voo de coruja
num piscar de uma saudade
antes o nada me fuja
É a luz branca que sorvo
enquanto declamo "O Corvo" *
Elane Tomich
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