segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Historia de amor


Seus olhos se encontraram. Um facho de luz penetrou-lhes o coração.
Foi amor a primeira vista. Desdita!
Desde aquele instante não podiam ficar longe um do outro.
Era com se estivessem na montanha russa. Frio na espinha,
calor no estômago, ardência pelo corpo inteiro.
Ele lhe dizia: “nunca amei ninguém como amo você.”
Pelo imponderável que havia na situação,
Ela acreditava. E a cada dia, mais se entregava àquele amor, tão repentino.
Amavam-se com urgência, com turbulência, com violência...
até a paz e a calmaria que vem depois do prazer.
Até a sonolência e o cansaço.
E o tempo se passou. Um dia ela disse para ele:
“Amor, estou grávida!” Atônito, ele olhou para ela
e respondeu: “quem é o pai?!”. Ela emudeceu.
O que era dia, tornou-se noite tempestuosa.
A primavera virou inverno...
A agulha, que antes tricotava um casaquinho amarelo,
penetrou-lhe o útero, perfurando o amor ali aninhado.
Sentiu a dor com uma certa alegria.
Terminava sua sensação de humilhação e de rejeição.
Foram dias de inconsciência, transitando pelo mundo dos sonhos e a realidade.
Quando acordou o amor tinha se tornado lixo hospitalar.
Hoje, ela casou-se com o médico que a atendeu naquele dia fatídico.
Tem dois filhos: Um está concluindo residência em obstetrícia e o outro termina,
este ano, o curso de medicina. É ativista ambiental, numa ONG,
que defende o direito à vida. Ele contraiu uma doença
que o tornou estéril. Casou-se, mais tarde, de véu, grinalda
e flores de laranjeira, com uma rica herdeira.
Moça virgem, prendada. Tem dois filhos:
Um do caseiro, e outro do motorista.

(Tereza da praia experimentando fazer contos curtos).

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Inclemência

Pensei
Que haveria um pouco mais
De amor para mim
Guardei
Cada luar
Cada verso encoberto
Nas notas da canção

Pra que
Se um vazio inesperável
Não percebi
Devolve meus dias
Minha alegria
Diz nos meus olhos
Verdades ruins

Que não foi bom rimar
Cada carinho que eu fiz
Que a minha voz cantada
Nem soa tão bem
Que os nossos sonhos
Foram pesadelos
Enfim,
Mas pelo menos
Fala pra mim

Esse silêncio
É que me atordoa
Se foi tudo à toa
Volta e me deixa
Me recolho,volto ao meu mundo
O que é só meu
Tem que voltar pra mim

Me lembro quando
Você passou
Era um dia tão claro de sol
Pensei:"Meu Deus,
É um sonho!"
Meu coração feito louco
Batuque

Por isso agora
Não me machuque
Vou te guardar como
Triste lembrança
Ninguém jamais vai me
Enganar outra vez
Eu prometo à vocês

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Aconteceu na Primavera (I)

Foi como o soprar de uma brisa.
Leve, suave, passageira.
Ele estava ali. Iluminado pelo
sol daquele dia frio. Foi uma
simpatia-antipatia a primeira vista.
Não gosto de tabaco, mas gosto de livros.
Um homem inteligente faz minha cabeça.
Começamos a conversar. Li uma poesia do
Livro que ele trazia nas mãos.
Repeti os últimos versos em voz alta.
Ele anunciou que não era o autor; que o livro
era de autoria de um amigo, seu patrício.
Depois, aquele homem penetrou nos meus pensamentos.
Parecia efeito de algum tipo de magia. Quando estava longe,
eu queria estar perto. Queria tê-lo sempre à minha vista.
Quando estava perto, desejava seu contato,
nem que fossem apenas suas mãos entre as minhas.
Riamos, conversávamos. Andávamos abraçados pelas ruas
semi-desertas daquela cidade perdida no tempo.
Ruas estreitas,calçadas com pedras,
cercadas por casarios coloniais, com grandes
janelas de madeira que nos espiavam passar.
Fazia frio. Eram dias nublados,
mas, dentro de mim, brilhava o sol.
Ele me convidava: “venha esta noite aquecer meus pés”.
Eu respondia:“Queres minhas meias emprestadas.” Sorriamos.
A insinuação de uma noite juntos tornava-se uma brincadeira.
Hoje, gostaria de ter esquentado seus pés.
Coisas não vividas que ficaram na fantasia,
fustigando meus pensamentos.
“Como seria fazer amor com ele?” Pergunto-me.
O desejo, a ternura, e um sentimento sem nome me tomam...
Alguma coisa, por dentro, me dói, me rói, me corrói.
Ele tinha algo de improvável, que o tornava muito interessante.
Os dias se passaram.
Chegou o fim daquele interlúdio lúdico na
rotina entediante da minha solidão.
Com um beijo, nos despedimos...
Seguimos nos trilhos do esquecimento.
Eu o esqueço a cada dia...
E me pergunto se ele se lembra de mim.
É. A vida é assim. Sigamos a todo galope!

(Tereza da Praia)

domingo, 11 de outubro de 2009

Gustavo A. Bécquer



Tu pupila es azul y, cuando ríes,
su claridad süave me recuerda
el trémulo fulgor de la mañana
que en el mar se refleja.

Tu pupila es azul y, cuando lloras,
las transparentes lágrimas en ella
se me figuran gotas de rocío
sobre una vïoleta.

Tu pupila es azul, y si en su fondo
como un punto de luz radia una idea,
me parece en el cielo de la tarde
una perdida estrella.

*******


Tuas pupilas são azuis e quando ris
sua claridade suave me recorda
o palpitante resplendor da manha
Refletido no mar.

Tuas pupilas são azuis, e quando choras
as transparentes lágrimas
nelas aparentam
gotas de orvalho
sobre uma violeta.

Tuas pupilas são azuis,
e si em seu fundo
como um ponto de luz iradia uma idéia,
Parece-me uma estrela perdida
em um céu da tarde.
(Trad. Todo Sentimento)
(Gustavo A Becquer - poeta espanhol).