Haja o que houver
Brigaram. Ele foi embora. Ela ficou esperando.
Esperando por ele. Chorava às tardes e às manhãs.
Com o tempo, não chorava mais. Só esperava.
A saudade apertava. Ela cantava “haja o que houver espero por ti”.
Cantava com o desejo que o universo a ouvisse e conspirasse por trazê-lo de volta.
Um dia soube que ele se casara. Chorou. Mas tinha a esperança que um dia ele voltaria. Entraria pelo portão com violetas nas mãos. Confessaria o seu amor. E ela o perdoaria. Viveriam felizes para sempre como nas novelas.
Sonhava todos os anos... "em dezembro ele vem". Ela já não se lembrava mais o que os separara. Mas sua ausência lhe doía nas entranhas. Era dor física e da alma. Às vezes sonhava com ele, acordava chorando.
Um dia, neste acasos, soube que a vida o estava levando... A chama estava se extinguindo. A final a vida não passa de uma flor que, ao seu tempo, murcha, perde o viço e desaparece.
Engoliu o orgulho de anos e anos, foi vê-lo. Não havia em seus olhos brilho, mas opacidade da ausência de vida, das dores e do sofrimento físico que a enfermidade lhe trouxera.
Ela não acreditava no que via. Disse apenas: “Oi. Vim lhe dizer que ainda te amo”. Ele apenas a olhou. Seus olhos eram inexpressivos. Ela tornou: “Por que ficamos tanto tempo longe? “. Lágrimas lhe rolavam pelas faces... Quis tocá-lo, mas não pode. Seu contato poderia ser fatal para ele, pela baixa imunidade.
E foi assim.
Voltou a vê-lo um mês depois. Frio e rígido. Não era mais ele. Era só um corpo. O corpo do homem amado. Chorou. Viúva sem ser. Depois enxugou os olhos, algo morrera dentro dela. A expressão de seu olhar não era a mesma. Agora ela sabia que ele jamais voltaria. Ouviu o corvo grasnar em seu ouvido: “Nunca mais”. A ausência dele nela era uma presença desesperadora. Era sempre. Ela sabia que mais do que nunca eles se pertenciam. Ela murmurou de si para consigo: “haja o que houver, espere por mim.
E virou mais uma pagina, iniciando novo capítulo.